Por uma cultura sustentável
Gustavo Marcel Filgueiras Lacerda
Muito se tem discutido, em nosso tempo, acerca da importância e urgência da Sustentabilidade. Mas o que significa isso? SUSTENTABILIDADE foi um termo extraído do campo da economia e introduzido pelo alemão Carl von Carlowitz, e significa o uso racional dos recursos naturais, a fim de gerar desenvolvimento, sem contudo comprometê-los; considerando a recuperação e permanência dos mesmos para a preservação da vida das gerações presentes e futuras. Trata-se de uma maneira de ocupar o espaço natural em convivência harmônica com toda a multiplicidade circundante. Assim, podemos falar de Sustentabilidade em profunda relação com a Cultura. Mas, antes, é preciso clarificar o que entendemos por cultura.
Por CULTURA entendemos aqui um sentido mais amplo e outro mais restrito, mas ambos interdependentes. No sentido mais amplo, CULTURA significa o modo como o ser humano, destituído de uma codificação biológica que determine seu agir, ocupa e transforma o espaço natural a sua volta, para nele criar possibilidade de vida. É o espaço humanizado; constituído de um emaranhado de significados que o homem atribui à natureza, ao tempo, ao espaço e, inclusive, aos outros seres humanos, formando seus valores, crenças, hábitos, entre outros, os quais, em seu conjunto, se chama ETHOS.
Outra consequência dessa falta de codificação interna, determinante do agir, é que esse ETHOS se torna uma estrutura dinâmica, variando de forma entre os agrupamentos humanos; pois eles são formados e reformulados de acordo com os contextos naturais, históricos e sociais dessas sociedades, dando origem às diferentes identidades culturais.
É dessa diversidade de identidades que emana o sentido mais restrito de CULTURA: as práticas artísticas (teatro, música, pintura, dança, cinema, entre outros), que incorporam e traduzem de maneira estética (conhecimento pelo afeto) essas diferentes formas de ser-no-mundo.
Assim, podemos pensar a relação entre CULTURA e SUSTENTABILIDADE, também, de maneira mais ampla e mais restrita; mas ambas assumindo a SUSTENTABILIDADE de maneira substantiva, como pensa Leonardo Boff, ou seja, transformadora do ser. Portanto, cultura se relaciona com sustentabilidade de maneira mais ampla quando, a partir da última, repensamos a nossa forma de ocupação desse espaço natural e das relações que estabelecemos em cima do mesmo, de modo a assumirmos hábitos, valores, normas de conduta, entre outros, que pautem nossas ações pelo compromisso ético de defesa, preservação e promoção da vida em todas as formas que ela assume; respeitando o igual direito de existência da multiplicidade circundante, seja no espaço natural ou cultural. Já no sentido mais restrito, quando se buscam ações concretas de incentivo a produção artística, como forma de preservação e promoção das diferentes identidades (como prevê a Constituição Federal de 1988 em seus artigos 215 e 216). Isso, a partir da compreensão de que somente num mundo onde há pluralidade é que se pode pensar verdadeira humanização; uma vez que aí é concretizado o RESPEITO, CONVIVÊNCIA e CUIDADO, quesitos fundamentais para uma verdadeira LIBERDADE.
Fato é que essas discussões, esse repensar, não é tarefa para o amanhã, ou para humanistas, ou aqueles que simpatizam com a temática. Tais problematizações são um imperativo imposto pelo nosso tempo a todos nós, pois delas dependem a sobrevivência do sistema-vida, no qual nossa espécie é parte. Portanto, mãos à obra. Vamos juntos construir um mundo melhor.
Referências:
1 - ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2008. p 20-25.
2 - BOFF, Leonardo. O cuidado necessário. 1 ed. Petrópolis: Vozes, 2012. 296p.
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